Mãe Leoa, pai Leão, e a cria o que é?

 
A leoa, amor eterno meu!

Eu tive uma mãe leoa. A Leoa rurge até onde não se pode vê-la. Era uma fera aquela mulher. Me espelho naquele olhar de leoa brava a defender sua cria. Olhos claros de uma eterna felina, dona de uma sabedoria ímpar. Mamãe me ensinou muita coisa. Me ensinou a ser justa. Não conseguiu fazer eu e papai se entender,  sempre temos nossas rusgas porque papai quer me converter para a igreja até hoje. 

Meu velhote tem mais de 80 anos. É um marrento, brigão e custoso. Quando ele quer algo de um jeito ou cisma com alguém; é melhor deixar o papai quieto. Eu e ele discutimos aqui e ali,  hora pelos remédios, outrora pela igreja que ele insiste em me converter há mais de quarenta anos, chega a ser engraçado. 

Brigamos, discutimos e passa um pouco,  aquele velhinho vem puxar assunto e a gente se entende denovo. Falamos,  falamos. Certa vez fui na casa dele e saí de lá rindo,  pois ele disse: - não vai não minha filha,  a gente nem começou a brigar ainda. 

Outras vezes ele me ligava as duas da manhã alegando que o coração dele estava parado. E eu dizia: pai,  o senhor já tá doidinho, coração não para pai,  vai dormir,  não podemos ir no hospital esta hora. Vamos dormir. Ele resmungava e pronto. 

Eu sou filha caçula dele,  ele sempre trazia uma maçã verde para mim no dia do pagamento dele. Ele fez para mim um churrasco de oito anos,  onde eu ganhei uma churrasqueira com oito espetos e um bolo de fubá feito pela mamãe. Foi maravilhoso,  nunca me esqueci daquele aniversário. Mas continuei as intrigas com o bom velhinho que até hoje quer converter a filha a ser crente da igreja dele,  só lá se salva no dizer dele.

O tempo passou,  e hoje o homem forte que eu via,  já está menos forte,  parece mais doido que de costume,  por vezes provoca muitos risos,  e por vezes me provoca choro. Por vezes de medo do dia que o Leão se for! Papai é um leão, mamãe era uma leoa e eu não tenho como ser outra coisa. Não choro,  leões não choram. Nos defendemos sempre e só ficamos em nosso território. Não invadimos território alheio. 

Como eu disse,  sou a Leoa que não chora. Mas papai ficar velho tem me feito ficar brava. Papai estava no portão e eu sentada na cadeira com Covid 19,  fiquei longe dele; mesmo assim ele foi lá no portão perguntou como eu estava. Pra não preocupar ele,  eu respondi que estava tudo bem. Mas eu estava passando muito mal. Foi quando ele me olhou e disse: -Eu te amo viu! 

E eu não escutei direito,  e perguntei: - O que o senhor falou pai? Ele então falou novamente- Eu te amo viu caçula. Foi então que entendi as palavras que evito dizer. Sou Leoa. Mamãe dizia:- se defenda de tudo e de todos,  ou nunca vão te respeitar, e você não me terá para sempre.

Eu baixei a guarda da última vez que ele tentou me converter no natal,  para que eu não participasse do natal mundano. Relevei e respondi a ele: - Vai ficar tudo bem papai,  eu também amo o senhor e não vamos morrer de Covid tá! Meu velho Leão ouviu o rugido da cria sorriu e saiu. Toda vez que estamos só nós dois ele diz: - você,  como diria sua mãe, é a cara do seu pai. E acho que devo ser mesmo,  pois dois bicudos não se bicam,  mas podem se amar,  mesmo um tentando dizer pro outro: respeite meu espaço!

Hoje eu sei que não aceito que meu velho leão seja maltratado. Eu, e as outras crias podemos brigar com ele, nossas brigas de cuidados com limpeza, ele já anda cansado das nossas bactérias, como ele mesmo diz,  tudo para eu e minha irmã é bactéria; bradamos com ele pra tomar remédios, nós filhos estamos sempre a  mandar tomar remédio, e cuidar da higiene. Toda hora tem remédio;  coisa que minha irmã faz todos os dias, lembrar papai de tomar remédios. Podemos brigar com ele por ele sujar tudo e querer comer com a mão suja! Nós podemos ver toda aquela bagunça que nós arrumamos para ele resmungando mais arrumamos. Nós as suas crias podemos ver tanta sujeira e nunca chamar ele de porco,  de lambão,  de velho safado, de velho vagabundo,  nós os filhos jamais falamos isto a ele. E acredite não vamos gostar de quem fale.

O Leão esta velho,  mas ainda se defende. Ele é o Leão,  e sempre será. Tem dias que ele quase deixa eu e minha irmã loucas,  pois ele apronta bastante,  afinal são mais de 80 anos de idade e creio que o leão já voltou a ser criança travessa que quebra lanterna e diz que não sabe como aquilo aconteceu. Ele é a criança custosa que quer ser internado para tirar o "couro" do pênis para não urinar na roupa. Ou ainda,  ele é a criança que quando vou lavar o banheiro e encontro lá uma colher da cozinha,  que ele levou para empurar as fezes descarga abaixo; e ele briga comigo mandando eu deixar a colher lá e eu falando pra ele das bactérias infinitas.

O leão está muito doido, por vezes me acabo de rir com as presepadas que ele apronta. Depois que passa a raiva após brigar com ele para que ele não coloque colher de fazer comida no vaso,  ou para não desperdiçar a comida desligando a geladeira porque ela tem gelo. Depois  da arte da criança vou pro meu canto rir e meditar se ficarei assim como o Leão.  Acho que ficarei pior.

Nos nossos momentos a dois o Leão rurge e me diz: - acham que sou velho, doente, doido, e bobo, mas você é como eu,  e sabe que eu me faço de bobo,  mas estou vendo tudo.                É,  eu achava que jamais ia entender as minhas desavenças com meu velho leão. Mas hoje eu sei porque saí em sua defesa e não quero que ninguém além dos filhos fale nada ao velho leão. Deixa que falamos a ladainha de filhos,  enquanto cuidamos de limpar sua bagunça, e toda a sujeira,  deixa que brigamos pelos remédios que dão saúde ao Leão. Os cuidados a um velho Leão só podem vir de sua alcateia.  Só resta saber quem me ensinou a ser Leoa,  meu pai Leão, ou minha eterna amada mãe Leoa? Já estou a concluir que foram os dois.

O Leão, assistindo o parabéns do neto de longe para não pegar Covid. 



Um grande abraço a todos!

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