Os leões

 



- Ah,  senhor Bocardio quem disse formiga? 
- Não importas,  a ti,  sou a voz.
- Calma,  retumbante, a voz!

Insistia no saber,  não sabia o viver miserável da fila do pão.  Pouco tivera da vida. E para que tanto? Não quisera ser feliz como o par de sapatos jogado ao canto. Ficou por ali. Escutava os anjos. Ouvia a liberdade da dor. Via o ódio sem o menor pudor. Assolava o estar num forte abraço,  lutas sem laços. 

Era apenas o senhor Bocardio. Um abatido das injustiças desta vida. Mudou de planos e foi ter com Carmem Miranda. Por lá ninguém entendeu,  mas todos podiam ver que as charretes eram puxadas por gente. Gente que estava na fila. Erguia com força qualquer folha no caminho.

Na noite seguinte veio Olavo a falar das loucuras do compradre. Estava deveras louco, jamais doido, e nunca idiota. Alice olhava na porta e via o gato de botas sem nenhum sorriso no rosto. Eis que em um pulo o gato caiu do telhado e saiu capengando rua abaixo.

Lá do outro lado da rua  o Diabo olhava assutado. Tinha ele muito medo dessa gente pegar a doença letal e ir ter com ele no inferno. Ah,  de cá estava seu Cloves,  sujeito sem modos,  ria da tristeza e preocupação que assolava o Diabo naquele instante.

- Calma retumbante? Nunca. 
- Mas então me diga, onde ouvistes dizer que leão mata formiga?
 
Um grande abraço a todos! 







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