O primo que não era Basílio
Éh, meu caro Onofre, quando cheguei ao vilarejo foi que me dei conta do desastre que o primo fizera com a própria vida. Iludido pelas palavras de Ordelia, casou-se as cegas. Enlouqueceu de vez, virou capacho da tal, pau mandado da chefinha. Eram primos, de certo, tudo em família, certo? Não certo!
Família é pai e mãe filhos e no máximo uma avó e um avô que juntos convivam, meu bom Onofre! Ordelia já de idade passada dos cinquenta, agora precisava urgente fazer família com o primo. Ou a já avô engravidava para ser a mãe de um filho do primo, ou não teria sossego, já estava uma pilha de nervos a ambicioneira senhora pensando na herança já havia brigado feio com os herdeiros.
Ordelia sabia que o primo morreria logo, sabia dos seus problemas de saúde e contava com eles para se tornar a viúva. Então tinha pouco tempo pra fazer uma família com o primo. O primo já passado do tempo, nunca fora a sua opção para amor nem tão pouco para marido; mas era a opção financeira, e agora a única pois ela já estava velha!
Onofre é lastimável a condição humana da avareza quanto mais me deparo, mais feliz eu fico em ver tanta presepada! Risos pela mesa se ouviu. Há quem diga que Ordelia é magra de ordinaria que é! Impôs, ao marido uma série de regras para se casar com ele.
A primeira regra foi para que o mesmo deixasse a ex mulher sem nada, pois assim ela teria mais dinheiro para encher a pança! Novamente risos se estendeu na taberna. Seu Bartolomeu estava sempre pelo vilarejo e espalhava aqui e ali as novidades. Na última vez que esteve por lá presenciosou os desacatos da prima, conhecida como: a chefinha, o casal virou piada.
E se o primo não a obdece é bem provável que ela lhe pegue aos chinelos, e bofetões no rosto. E se não a obdecesse ela não casava com ele. A chefinha é o tipo que nenhum outro primo quis. Basílio mesmo nem lhe aguentara para a cama, sua magresa lhe tirava o apetite.
Prova de amor para a esposa do primo é dinheiro no bolso é assim que ela sempre pagou as contas, as viagens, as comidas e as plásticas inacabáveis, que nem tem bons acabamentos. Já dizia a Dinda, quem não tem beleza se corta em cima da mesa, vai contra a natureza, e nunca alcança a tal beleza.
Por fim é sabido que ela não quer nem mesmo que o pai dê comida aos filhos! Fica nervosa em ver o dinheiro do marido sendo gasto com filhos que são só dele, isto é a morte! Ela não se conforma e briga constantemente com o marido e com os filhos dele.
Vez ou outra, aqui e ali, se ouvia as presepadas o povo comentando que ela sim, se casou por dinheiro, diferente da mãe dos herdeiros. Afinal, quem fez o marido roubar a ex esposa; quem impede o marido de ajudar os próprios filhos; e ainda está desesperada para arrumar um filho com o primo, mesmo sabendo que no adiantado da velhice de ambos a criança pode vir com sérios problemas de saúde. A prima, esta sim, casou-se pelo dinheiro. E para completar meu bom Onofre, o sangue em família nunca dá boa coisa. É um risco a se correr apenas para quem se casou só com um único objetivo: o dinheiro do marido!
Onofre sorrido da situação só respondeu:- tempo cura queijo. Todos riram a mesa e mais uma rodada de canapés e vinhos fora servida; na ponta da mesa Lucy ergue a taça e grita com os demais convivas: - E viva o amor! Todos respondem: - Viva!
Luciene Rroques.
Da minha coleção de escritos: Os Contos Secretos. Parabéns você descobriu mais um conto que lhes conto.
Um grande abraço a todos!
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